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Cultura do Cancelamento: Contornos do fenômeno no Brasil

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Você já cancelou alguém ou acompanhou algum famoso sendo cancelado nas redes sociais? O cancelamento com o passar dos anos tomou ainda mais fôlego e, no Brasil, tornou-se centro do debate com a edição 21 do reality show Big Brother Brasil. Mas, afinal, o que significa cancelar alguém e por que a sociedade faz isso?

Desde a fundação do ILD pensamos em estudos que envolvam a liberdade digital e, por isso, elaboramos um artigo que traz, sobretudo a partir da liberdade de expressão, o que seria a “cultura do cancelamento” e a maneira em que esse fenômeno afeta a sociedade.

Nesse caminho, além de pesquisa bibliográfica, contamos com a participação de 815 respondentes a um questionário que aplicamos, a fim de compreender quais os assuntos que poderiam gerar maior cancelamento e se as pessoas incorporavam um comportamento “cancelador” em suas redes sociais.

O que se observou a partir das 815 respostas obtidas é que pessoas de diferentes espectros políticos (da esquerda à direita), em algum grau, excluíram ou excluem pessoas de suas redes sociais em decorrência de divergência de opiniões. Essa questão se mostra interessante, uma vez que o cancelamento é observado como um fenômeno de setores progressistas e/ou de esquerda (SÁNCHES, 2020; UOL,2020; FOLHA, 2020; TAB, [2020]). Na verdade, 33% dos entrevistados acham certo que as pessoas cancelem quem emite opiniões discordantes, enquanto 33% acham errado e 34% não sabiam responder. O Gráfico 1 demonstra o achado:

Ainda, o que se observou é que entre os respondentes houve maior propensão a excluir ou deixar de seguir algum influenciador digital ou famoso em decorrência de ideias diferentes, do que familiares e amigos. Isso poderia indicar uma maior tolerância dos entrevistados por aqueles que possuem um vínculo mais próximo. O vínculo pessoal, mais que o digital, permite discordância em maior grau. Essa constatação permite que os achados que afirmam o cancelamento de famosos, de marcas, produtos e serviços ocorrem de maneira mais sensível (GREENHALGH, 2021; MACQUARIE, 2020; ROMANO, 2020).

Dentre os respondentes, os assuntos raça e gênero são os que geram maior probabilidade de cancelamento: perguntados se a divergência de opinião a respeito desses assuntos incomoda, cerca de 41% se incomoda muito com divergências sobre raça, enquanto que 38,04% se incomoda muito quando o desacordo é sobre gênero. Divergências sobre religião incomodam muito apenas cerca de 10% das pessoas, enquanto que política e classes sociais encontram repulsa em média em 33% dos respondentes. Um dado interessante é que o tema política incomoda muito ou pouco cerca de 80% dos pesquisados, o que revela a propensão à ação – que pode levar ao cancelamento. O Gráfico 4 apresenta os resultados:

Foram os comentários à pesquisa, propiciados por meio de uma pergunta aberta ao final do Questionário, que foram determinantes para responder a pergunta de pesquisa: o cancelamento é censura ou protesto? Considerando que os comentários sempre se posicionaram não no sentido de silenciar alguém, mas de marcar uma posição, opondo-se ativamente ao perfil ou ao conteúdo, ou, simplesmente, cancelando-se perfis com base na liberdade individual, esta pesquisa sugere que o cancelamento, mais que censura, é protesto.

Como sugestão para estudos futuros, apresenta-se a ideia de acompanhar o cancelamento durante as Eleições de 2022. Considerando que a pesquisa apontou que a política incomoda, de alguma maneira, 80% das pessoas, o comportamento dessas pessoas nas Eleições de 2022 em termos de cancelamento podem gerar mais dados para verificar se o fenômeno pode ser considerado, além de protesto, censura.

Essa pesquisa faz parte do Laboratório Digital LibEx ILD e contou com a participação de: Marco Antonio da Costa Sabino, Diogo Rais, Rachel da Mota e Roberta Battisti